outubro 12, 2011

ofereci-me flores...



Há quem tenha carros favoritos. Há quem tenha restaurantes favoritos… Outros têm locais de férias favoritos, comida favorita, livros favoritos, filmes favoritos, mulheres favoritas, cidades favoritas, etc, etc, etc… É-me agora difícil ter este tipo de raciocínios. Confesso que mudei, não sei se pela idade, se pela dificuldade, mas mudei… Compreendo, aceito, admito este género de raciocínios ou tema de cavaqueira entre amigos. Por vezes somos mesmo obrigados a responder a questões deste tipo, naquelas estereotipadas entrevistas que dizem ser para definir melhor o perfil das pessoas… Mas não, eu tenho alguma dificuldade em definir favoritismos nesta onda a roçar a futilidade. Tenho no entanto dois velhinhos favoritos em Vilnius. Um Homem e uma Mulher. Ambos com uma imagem tão humilde e tão bela que não posso recusar o favoritismo que me invade quando passo por eles, quase todos os dias. Ele, sentado num banco de rua, numa posição que não sendo de pedinte denota desde logo essa necessidade que lhe vai na alma, no corpo, e mais do que provável, no bolso. Acredito que o pudor não lhe permite assumir uma posição mais notada dessa necessidade. Mãos cruzadas sobre uma bengala corroída pelo tempo e chapéu que me inspira, fazendo-me lembrar (não me perguntem porquê) o meu país. Ela, a minha Velhinha favorita, vende flores, escondida numa esquina. São flores muito simples, meio campestres, quase certo, apanhadas por onde passa… Como os dele, os olhos dela não mentem… As flores são o assumir da necessidade e a sua venda a dignificação da esmola. Tem sempre um ramo na mão e perto dos pés um balde de água, preto, com mais meia dúzia de ramos, esperançada, sempre, no jackpot que é para ela tão simples como a venda diária das flores que traz. Hoje, ao passar pela esquina da minha Velhinha favorita, ofereci-me flores, trouxe-as carinhosamente para casa e coloquei-as exactamente no mesmo sítio de quando me oferecem flores.

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